Casas destruídas em Teresópolis, no Estado do Rio de JaneiroAntónio Lacerda, EPA
As cheias no Sudeste do Brasil vitimaram mais de 500 pessoas, a grande maioria na região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Há a registar mais de 13 mil desalojados e desconhece-se ainda quantas pessoas estão soterradas debaixo da lama e da água. O governador do Rio reconhece a origem humilde da maior parte das vítimas e atribui a destruição à "desgraça do populismo". A presidente Dilma Rousseff pediu melhorias na política habitacional.
Os bombeiros lutam contra o tempo à procura de sobreviventes, mas o número de mortes está constantemente a aumentar. As operações de resgate estão em curso mas ainda existem populações isoladas. As previsões meteorológicas apontam chuva até terça-feira.
Na região serrana do Estado do Rio de Janeiro foram, até à tarde de quinta-feira, identificados 470 corpos. As cidades mais atingidas foram Petrópolis (39 vítimas), Teresópolis (223), Nova Friburgo (225), Sumidouro (19) e São José do Vale do Rio Preto (4), apurou "O Globo".
A Defesa Civil confirma que mais de 13 mil pessoas estão desalojadas, sendo o maior número registado em Teresópolis. Mais de seis mil estão em abrigos do Governo e 7780 em casa de familiares.
As fortes chuvas também provocaram vítimas nos Estados de São Paulo e de Minas Gerais. No Estado mais populoso do Brasil, a cidade de Franco da Rocha está submersa há mais de dois dias. Os temporais que atingem a região desde o início do ano afetaram 73 autarquias, provocaram mais de dois mil sem abrigo e causaram a morte a mais de duas dezenas de pessoas.
Setenta cidades de Minas Gerais, onde 16 pessoas perderam a vida e mais de 2300 ficaram sem local onde dormir, decretaram situação de emergência.
Maior desastre com chuvas
O governador do Rio de Janeiro atribui o nível de destruição à "desgraça do populismo", que permitiu a ocupação de encostas em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis.
"Do início dos anos 80 para cá, as três cidades tiveram um grande problema -- a desgraça do populismo, em que um político deixa ocupar áreas como se fosse um aliado dos pobres, mas quem paga, mesmo havendo casas de classe média atingidas, é a maioria, que é pobre", afirmou Sérgio Cabral, ao lado de Dilma Rousseff.
O governador salientou a origem humilde da maioria das vítimas mortais e lembrou que a ocupação do solo urbano é da responsabilidade da municipalidade. "Muitas vezes, educar é dizer não. Não pode ser construído. Quanto menos área de risco ocupada, menor o dano", afirmou Sérgio Cabral.
Em declarações ao “Folha de São Paulo”, uma professora de Geografia da Universidade Estadual de Campinas considerou que este é o maior desastre com chuvas que alguma vez atingiu o Brasil.
Luci Hidalgo Nunes nota que existem registos de tempestades no Estado do Rio desde 1711 e é peremtória ao aconselhar que os moradores sejam retirados de habitações em áreas de risco. “As chuvas vão continuar. A dimensão do desastre é que é inaceitável”, declarou. A docente aponta ainda que o número de vítimas supera o das enchentes de 1967 no Estado de São Paulo.
Autoridades políticas preparam ajuda
A presidente do Brasil, que enfrenta a primeira crise desde que foi empossada a 1 de janeiro, sobrevoou ontem a região serrana e visitou a cidade de Nova Friburgo. "Agora nós temos de resgatar pessoas, restruturar as condições de vida nas regiões atingidas, permitindo que as pessoas tenham acesso a remédios, que tenham minorado seus sofrimentos quando perdem suas casas, seus bens", declarou Dilma Rousseff na sua primeira conferência de imprensa enquanto Presidente do Brasil.
A governante anunciou 500 milhões de euros para reconstruir as zonas afetadas, a disponibilizar da forma menos burocrática possível, e também para evitar novas tragédias. "A prevenção não é uma questão apenas da Defesa Civil. É uma questão de saneamento, drenagem e política habitacional de Governo", disse Dilma, para quem "moradia em área de risco no Brasil é a regra, não é a exceção".
Sublinhando que o ordenamento urbano do solo no Brasil é responsabilidade dos municípios, Dilma Rousseff defendeu a melhoria das políticas para a habitação e garantiu que o Governo federal não financia moradias em áreas de risco. "O mecanismo que o Governo federal tem é este. O ordenamento urbano quem faz é o município", acrescentou.
Ontem, foi também dado a conhecer o empréstimo de 450 milhões de euros do Banco Mundial ao Estado do Rio. A verba destina-se ao programa habitacional Morar Seguro, que tem por missão tirar moradores das áreas de risco.
Foi ainda anunciado o investimento de 790 milhões de euros na drenagem e contenção de encostas no estado do Rio de Janeiro até 2014. A verba integra o Programa de Aceleração do Crescimento, iniciado em 2009. A primeira fase do projeto terminou em 2010, tendo sido selecionados projetos no valor de 460 milhões euros. A segunda fase decorre de 2011 a 2014, com atribuição de 286 milhões de euros àss propostas de drenagem e contenção de encostas selecionadas.
A cidade de Teresópolis vai receber 5,8 milhões de euros, Nova Friburgo 3,9 milhões de euros e Petrópolis 490 mil euros.
Dilma Rousseff manifestou solidariedade às famílias enlutadas e colocou a estrutura do Governo federal à disposição do Estado do Rio de Janeiro.
A reunião desta sexta-feira, a primeira que Dilma faz no Palácio do Planalto com todos os seus 37 ministros, será dominada pelo impacto das chuvas no país, bem como as formas de prevenção.
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